Uma meia dúzia de dois ou três, ou a democracia do maior no país do futuro

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O Vale dos Vinhedos tem duas ou três vinícolas grandes e todas as demais são de pequeno porte, principalmente, quando comparadas ao velho mundo do vinho.

Werner Schumacher*


Considerando apenas a D.O. Vale dos Vinhedos, digo a denominação de origem, é provável que as grandes seriam de pequeno ou médio porte.

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Quando a Aprovale, a Associação de Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos foi fundada, em 1995, havia cerca de 700 hectares de vinhedos e hoje essa área está restrita a metade disso.

Da fundação da entidade, de meras seis vinícolas, nenhum restaurante, pousada ou hotel, sequer estrada pavimentada havia, assistimos ao surgimento de muitas pequenas vinícolas e inúmeras outras atividades associadas ao turismo.

A grande maioria dessas vinícolas foram criadas por produtores de uvas locais e que viram uma oportunidade de explorarem o turismo e dar maior rentabilidade a sua propriedade, fazendo com que jovens permanecessem na propriedade, inclusive, muitos retornando a viver na zona rural.

Esse é o típico modelo de desenvolvimento local, a localidade, modernamente chamado, ou seja, um movimento feito pelas pessoas e para as pessoas desse lugar.

A localidade é igualmente um movimento que vem crescendo muito em todo o mundo, pois consumir o local significa manter o capital circulando na comunidade (município), o fator social e há aquele ambiental, menos transporte para o abastecimento de alimentos e outros artigos.

Faz sentido trazer tomate de São Paulo, pimentão do Ceará, etc.? Dizem até que o pêssego de Pinto Bandeira vai pra Ceasa da capital paulista e retorno para o Ceasa da capital gaúcha, esse é o mundo meio louco que vivemos.

Imigrantes italianos

O modelo de desenvolvimento local foi aquele utilizado pelos imigrantes italianos quando aqui chegaram em 1875, uma história digna de heróis, uma verdadeira saga e uma das provas é que em apenas 15 anos Dona Isabel deixou de ser vila para se tornar o município de Bento Gonçalves.

Uma vinícola não é um chão de fábrica, não é baseada num pensamento cartesiano de mercado, ela nasce por ter raízes no local, um pensamento mais complexo, portanto, voltado para um desenvolvimento humano, social e cultural, não apenas o progresso econômico.

O grande problema do município de Bento Gonçalves é que ele não é mais rural, ou seja, 90% dos votos estão nas mãos de moradores da cidade e apenas 10% daqueles que vivem na zona rural.

Os vereadores e o prefeito, leia-se Legislativo e Executivo pouca importância darão aos votos do interior, gostem ou não, essa é a pura realidade.

Não preciso ser mais explícito, mas que DEMOCRACIA É ESSA, quando uma maioria, desenraizada, quer resolver o destino, o futuro, em detrimento de uma minoria com história, com cultura e todos os elementos de um habitat original.

Esse é o nosso Brasil, aquele que há muito deixou de ser o País do Futuro, talvez aí a razão do suicídio do autor do livro**.

**Stefan Zweig, escritor austríaco, autor de o País do Futuro.


*Werner Schumacher, é o alemão brasileiro que na década de 80 e 90 do século passado trouxe os insumos da Europa para o início da vinicultura no Rio Grande do Sul, e portanto, no Brasil.

Sem meias palavras, Werner durante os últimos anos escreveu sobre inúmeros assuntos do universo do vinho. Defendeu a viticultura heroica de montanha, ficou do lado dos pequenos produtores de uva e vinho do Rio Grande do Sul, enalteceu a importância do enólogo em uma propriedade que produz vinho. Além de tudo isso, e com muita classe, critica os marqueteiros que tentam desmistificar o mundo do vinho com seus produtos padronizados.

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