Entre 1880 e 1920, país recebeu cerca de 1,4 milhão de italianos, que influenciaram a cultura e os hábitos brasileiros
EDIÇÃO DO DIÁRIO com agências
A comunidade italiana no Brasil comemora, nesta quarta-feira (21), 150 anos da imigração para o país. A data marca a chegada em Vitória (ES), em 1874, do navio La Sofia, que trazia cerca de 400 imigrantes provenientes das regiões de Trento e Vêneto. Após passar 18 dias em alto-mar, os italianos chegaram no novo continente com a expectativa de melhores condições de vida, após passar por uma profunda crise que assolava o país europeu.
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O historiador e cidadão ítalo-brasileiro, Emerson Pavão, explica que os primeiros imigrantes enfrentaram as adversidades decorrentes da unificação da Itália, que aconteceu em 1870. “Antes, a região era composta por vários reinos. E a unificação desses Estados, aliada ao processo de industrialização, ocasionou problemas como conflitos culturais, desemprego e pobreza. Por isso, esses imigrantes chegaram ao país em condições muito precárias, com dificuldades para subsistência”, conta.
Auge
O auge da imigração italiana no Brasil ocorreu entre os anos de 1880 e 1920. De acordo com estimativas do IBGE, o país recebeu 1,4 milhão de italianos nesse período, número que representa 42% do total de imigrantes que ingressaram no Brasil na época. O Instituto destaca que o idioma latino, a religião e os costumes dos italianos contribuíram para que eles fossem mais facilmente assimilados na sociedade brasileira em comparação com alemães e japoneses. Além disso, em 1888, aconteceu a abolição da escravatura, tornando essas pessoas importante mão de obra para as fazendas de café, indústrias e comércios.
A maioria dos imigrantes italianos que vieram ao Brasil eram provenientes do Norte do país europeu, em especial da região de Vêneto. Eles cruzavam toda a Itália para embarcar nos navios na cidade de Gênova. Pavão ressalta que os italianos que possuíam maior poder aquisitivo geralmente escolhiam os EUA para imigrar. “Os imigrantes que vieram para o Brasil deixaram tudo para trás, para chegar em um país desconhecido, sem saber falar a língua. A travessia de navio também era cruel, com muitos passageiros morrendo ao longo da viagem. Por isso, nessa data, precisamos honrar e reverenciar essas pessoas”, salienta o historiador.
Imigração modificou o país
A CEO da Ferrara Cidadania Italiana, empresa especializada em processos de reconhecimento e serviços consulares, Camila Malucelli, afirma que a imigração italiana modificou o país e influenciou diversos hábitos dos brasileiros. “A cultura italiana está presente em diversas partes do país, na culinária, na arquitetura e em alguns costumes. Temos muito a agradecer a essas pessoas”, complementa.
Regiões
O Estado de São Paulo recebeu o maior número de imigrantes italianos. Pavão afirma que, durante o ápice da imigração, de 80 a 90% dos italianos firmaram-se na região. Os próprios ascendentes do historiador chegaram ao porto de Santos, em 1885. Depois, foram levados para uma hospedaria na capital paulista, local que hoje abriga o Museu da Imigração do Estado de São Paulo. Cerca de um mês depois, foram trabalhar em uma fazenda de café na cidade de Valinhos (SP).
Pavão destaca que a vida dos novos trabalhadores das fazendas era, obviamente, diferente dos antigos, que eram escravos. Entretanto, os salários eram baixos e não havia muita mobilidade. “O regime dentro das fazendas era muito difícil. Os italianos quase não saíam desses locais e acabavam casando-se entre eles, o que também contribuiu para preservar a cultura italiana”, relata Pavão.
Os imigrantes que não se instalaram no em São Paulo foram para a região Sul do país, onde desfrutaram de maior liberdade. “Embora as condições também fossem difíceis, esses imigrantes receberam terras, que precisavam ser pagas por meio da produção. Os italianos começaram a montar as colônias, e algumas dessas regiões permanecem até hoje com os hábitos italianos”, ressalta Pavão. No Sul do país, em especial no Rio Grande do Sul, ainda existem locais onde os dialetos italianos são mais comuns do que o próprio português.
Cidadania
Pavão conta que ele mesmo se comunicava com o seu avô em italiano. O desejo para o reconhecimento da cidadania italiana nasceu a partir da convivência com o patriarca, que fazia questão de manter vivas as histórias e os costumes do país europeu. “Para mim, a cidadania italiana representa uma homenagem aos meus antepassados, que sofreram muito para chegar até aqui. Além disso, conhecer sobre as nossas origens faz com que entendamos mais sobre quem somos, porque somos de determinadas maneiras e para onde estamos indo”, disse o historiador.
A CEO da Ferrara Cidadania Italiana salienta que o reconhecimento de cidadania é um direito garantido a todos os descendentes de italianos, mesmo que não possuam sobrenomes europeus e que tenham nascido em outros locais. “A constituição da Itália prevê o ‘Jus Sanguinis’, ou direito de sangue, que afirma que os descendentes de italianos já são cidadãos daquele país desde que nasceram. Assim, o processo para obtenção da cidadania apenas confirma e reconhece os laços consanguíneos, por meio de certidões”, afirma. Cerca de 750 mil brasileiros já receberam o reconhecimento de cidadania italiana. Só no ano passado foram finalizados 7.844 processos pelo Consulado Geral da Itália em São Paulo, o que representa um crescimento de 16% em relação ao ano anterior. Também foram emitidos 33.643 passaportes italianos, uma expansão de 25% em comparação a 2022.
Sobre a Ferrara Cidadania Italiana
A Ferrara Cidadania Italiana é uma empresa especializada no processo de reconhecimento de cidadania e serviços consulares. Foi criada em 2005, na cidade de Ferrara, na Itália.