Idealizado pela área de design da Accor, o evento propôs quebrar paradigmas da hotelaria, oferecer ideias frescas sobre os dogmas da indústria hoteleira tradicional
Um encontro informal reunindo arquitetos, designers, empreendedores e hoteleiros e que serviu para expandir o conceito de hotel. Não aquele conceito antiquado de lugar só para dormir e tomar banho, mas uma expansão para um nova perspectiva: um lugar para ficar mais tempo, se divertir, se inspirar, se relacionar além de, obviamente, dormir e tomar banho.
por Paulo Atzingen (transcrição de textos: Caroline Figueiredo)*
Publicado em 26 de setembro (RETRO 2023)
O encontro foi provocado pela equipe de design Accor Américas e aconteceu na segunda-feira (25) no +55 Design, na capital paulista. O endereço foi escolhido a dedo, pois ofereceu luz natural, arquitetura amigável, móveis em madeira reflorestada, e uma dose de verde com plantas e paisagismo interior. O CEO da Accor, Thomas Dubaere participou da primeira parte do encontro.
Idealizado pela área de design da rede hoteleira, o próprio conceito do encontro propôs quebrar paradigmas da hotelaria, oferecer ideias frescas sobre os dogmas da indústria hoteleira tradicional. “Queremos algo completamente diferente do que a gente vê em eventos de hotelaria, aquela coisa mais hermética. A nossa ideia – e vamos evoluir nesse conceito – é: trazer um ambiente diferente, um ambiente que não seja necessariamente hotel, mas que tenha uma questão de arquitetura, de interiores de design muito forte”, afirmou Lara Teixeira, vice-presidente Sênior da área de Design e Technical Services da Accor.
Lara e sua equipe tem inúmeras frentes de trabalho na Accor, como acompanhar as conversões e as reformas das unidades. “São hotéis que precisam entrar em grandes processos de renovação e nós acompanhamos, trazendo conceitos novos, designs novos, e nessa perspectiva, a gente indica profissionais (e empresas) para trazer mais qualidade nessas renovações, além é claro, supervisionar os custos”, enumerou Lara ao DIÁRIO.
Projeto implementado
Gustavo Cedroni é sócio da METRO Arquitetos e em 2017 ganhou um concurso internacional da Accor para fazer os novos projetos da marca Novotel. Todo esse projeto, segundo ele, demorou dois anos para o seu desenvolvimento, e agora está sendo implementado em diversos países e no Brasil. “São cinco projetos no Brasil em fase de implantação e um já foi implementado no Novotel Vladivostok, na Rússia. É um projeto que tem esse design desenvolvido por nós para todas as áreas, não é apenas para os quartos. Incluem também as áreas comuns, de wellness, restaurantes e bares, vários ambientes do hotel”, especifica.
Culturas locais
De acordo com o arquiteto, o grande desafio era desenvolver um projeto Novotel que pudesse ser implementado em qualquer lugar do mundo. “A gente criou alguns elementos para esse projeto, muito marcantes, como o banheiro do quarto, os assentos do lobby. A ideia é que os arquitetos locais pudessem trazer um pouco da cultura do lugar anexada nesse projeto. Então era um projeto que previa já essa ideia, de uma interação com as culturas locais”, conta Cedroni.
Missão heroica
Considerando o padrão arquitetônico e estrutural dos hotéis com bandeira Novotel, a missão dada a Gustavo Cedroni foi heroica. Transformar um conceito de hotel encaixotado, hermético e tradicional, em um produto jovem, sinuoso, claro e funcional.
“Sim, o Novotel sempre teve essa padronização, de serviço, de design. Então a ideia é que em qualquer lugar do mundo que você chegasse no Novotel tivesse exatamente a mesma coisa, o que hoje em dia não parece tão viável. Porque, no fundo, você vai para uma determinada região, um país, algum lugar do globo, você quer ter experiências locais. Você quer desfrutar da comida local, conhecer as pessoas, aproveitar o clima local. Isso acaba se refletindo também no design, no mobiliário, enfim”, traduz.
Cinco no Brasil e Um na Rússia
Catarina Nedavaska, gerente de Design da Accor adiantou ao DIÁRIO alguns projetos que já incorporaram os conceitos apresentados pela METRO, mais arrojados e modernos:
“Temos o Novotel Recife Marina. São 300 apartamentos e lá estamos implantando o conceito da METRO. Aqui temos um escritório local e ele recebeu os guidelines, os manuais da METRO, e desenvolveu o projeto, adaptando para as características locais daquele projeto, em Recife. Temos o projeto da METRO no Novotel Belo Horizonte Savassi. Já implantamos no Novotel Lençóis Paulista, aqui em São Paulo”, enumerou.
Atualmente, segundo ela, são cinco hotéis Novotel no Brasil que já possuem ou estão em processo de implantação das ideias disruptivas da METRO, a saber: Novotel BH Savassi, Novotel Lençóis Paulista, Novotel Recife Marina, Novotel Uberlandia e Novotel SP Jardins. Na Rússia, o Novotel Vladivostok já tem as linhas da equipe de Gustavo.
Guideline
Explica Catarina, que o conceito de arquitetura e de design interior da METRO são traduzidos e alinhados em manuais e que esse alinhamento é divulgado não só localmente, mas globalmente.
Ela lembra que a METRO não se tornou parceiro de ideias e projetos para a Accor de forma aleatória:
“Precisávamos trazer novas linhas arquitetônicas, novas ideias, trazer um escritório que a gente nunca havia trabalhado e que não tivesse projetos em hotelaria. Fizemos um concurso, com diversas fases, diversos juris, votações, inclusive com um júri global que avaliava os projetos. Selecionamos em torno de uns 10 escritórios da nossa região aqui do Brasil para participar do concurso e mesmo não tendo trabalhado com eles nunca, escolhemos a METRO, por seu poder de inovação”, justificou. No evento, Catarina teve a companhia de Miguel Pissarra Pires, head de Design da Accor Américas.
Diálogo
O design tem que se comunicar com tudo, disse Thomas Dubaere antes de sair para um outro compromisso. “Trata-se de uma tendência. Os serviços que o hotel disponibiliza para os hóspedes, tendem a se abrir cada vez mais para a cidade. Isso é importante porque traz gente de fora para o hotel para interagir com os hóspedes, criando uma sinergia”, disse.
Luz para o concreto
Se falávamos de elementos concretos e tangíveis até agora, filhos da arquitetura, Ana Karina Camasmie, uma das sócias da FOCO – Luz e Desenho ampliou as possibilidades dos projetos de engenharia e arquitetura oferecendo uma nova perspectiva sobre os ambientes com o uso da luminosidade.
Ana Karina Camasmie, é arquiteta e uma das sócias da FOCO – Luz e Desenho. No encontro ela falou sobre projetos de iluminação voltados para a arquitetura.
“A gente desenvolve projetos de iluminação voltado para arquitetura e o nosso olhar é voltado para um espaço determinado que será ocupado e como ele deveria estar iluminado em diferentes horários do dia e quem o usará”, enumerou.
A luz é tudo
Segundo ela, pensar na luz só à noite não faz sentido. “A luz é tudo. Você tem que pensar na luz em todos os horários do dia. O tipo de iluminação em um projeto arquitetônico em hotelaria afeta e influencia os hóspedes”, disse.
“Pias de banheiro muito iluminadas, ou com iluminação inadequada dificultam a mulher quando vai se maquiar. Restaurantes de hotel com iluminação muito intensa durante o café da manhã incomoda as pessoas que acabaram de acordar” enumerou com segurança.
Segundo ela, existem luzes (e intensidades) para todos os ambientes: luzes para bistrô, luzes para lobby, luzes para academia e assim por diante. “Se é uma galeria de arte você vai precisar de muito mais brilho para as obras que quer destacar, se é em um bistrô a iluminação deve ser mais intimista”, comparou.
Ainda sem nenhum contrato em andamento com a rede Accor, Karina adiantou, no entanto, que tem uma parceria, em processo inicial, com o escritório de arquitetura de Marcio Kogan MK27. “Entendemos que (os projetos da) área hoteleira estão ainda em processo embrionário. É preciso fazer essa formação da importância dos projetos de iluminação. Não basta apenas comprar luminárias”, brincou.
*Paulo Atzingen é jornalista e fundador do DIÁRIO DO TURISMO