Ponto Chic faz 100 anos em Sampa e livro conta tudo!

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Uma coisa puxa outra diz o ditado. Atraído como imã às coincidências fui almoçar com amigos no Ponto Chic na semana passada e o dia era exatamente aquele em que o restaurante completava 100 anos: o dia, 24 de março.

por Paulo Atzingen (de São Paulo)*


O endereço, número 27 do Largo do Paissandu resistiu a todos os elementos da natureza, inclusive ao tempo e chega ao centenário cheio de vigor.

Aberto no mesmo ano da Semana de Arte Moderna de 1922, o Ponto Chic recebeu intelectuais do movimento, artistas e inúmeros escritores como os desafetos Mário de Andrade e Monteiro Lobato (provavelmente em dias ou horários diferentes, claro). Foi Ponto de encontro de jornalistas, políticos, diplomatas e  na década de 1970 chegou a fechar em razão do êxodo de bancos e empresas do centro da capital para a avenida Paulista.

O ponto comercial começou como uma casa de lanches e choperia, aberto por Odilio Cecchini em março de 1922.

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Garçons

As mesas no dia estavam pouco disputadas, e consigo fácil uma logo na entrada, próxima ao letreiro dos Cem Anos. Fui, de cara, atendido pelo Miguel Moreira Neto, um garçom que tem ‘somente’ 43 anos de Ponto Chic.

“Já trabalhei nas outras duas casas, sempre no Ponto Chic”, conta Miguel, resumidamente, nos lembrando dos outros dois endereços da marca: Ponto Chic Paraíso e Ponto Chic Perdizes.

O que certamente ajudou o lugar  a atingir idade tão longeva foi que justamente aqui o Bauru foi inventado, este sanduíche genuinamente paulistano que concorre com o misto quente como o preferido do Brasil.

O papel manteiga sob o prato trazia a história do Bauru:

Puxando pela memória,  Casimiro Pinto Neto – o “Bauru” – recorda o dia em que nasceu o sanduíche que levaria seu apelido, espalhando a fama de sua terra natal para os quatro cantos do mundo:

“Era um dia que eu estava com muita fome. Cheguei para o sanduíches Carlos – hoje já falecido – e falei: Abre um pão francês,  tira o miolo e bota um pouco de queijo derretido dentro. Depois disso o Carlos já ia fechando o pão e eu falei: – Calma, falta um pouco de albumina e proteína nisso. Eu tinha lido em um opúsculo livreto de alimentação para crianças, da Secretaria da Educação e Saúde, escrito pelo ex-prefeito Wladimir de Toleso Piza, também frequentador do Ponto Chic – que a carne era rica nesses dois elementos.  Bota umas fatias de rosto beef junto com o queijo e já ia fechando de novo quando eu tornei a falar: – Falta a vitamina, bota aí umas fatias de tomate.

Este é o verdadeiro Bauru”.

Mas o dia era especial na casa, e o assunto Bauru misturava-se à data, 24 de março.

Livro Ponto Chic – Um bar na história de São Paulo

Meu interesse pela data e pelo assunto despertou em Chiquinho, outro garçom com mais de 30 anos de casa, a iniciativa de trazer à mesa um exemplar do Livro Ponto Chic – Um bar na história de São Paulo, do jornalista Ângelo Iacocca. Comprei um e levei pra casa.

Iacocca, nas 240 páginas do livro, avança sobre a história de São Paulo a partir da virada do século XX. Ele não se restringe a contar a história do restaurante e do bar agora centenário (o livro foi publicado e editado pela Editora Senac São Paulo, em 2011), mas produz um documento histórico da antiga São Paulo provinciana, com uma economia basicamente agrícola e com ruas com lampiões de gás até o período em que a cidade se transforma nessa  locomotiva econômica, o maior centro urbano da América Latina.

Angelo Iococca em seu livro deixa reservado o ponto central da obra no desenrolar de sua narrativa (o Ponto Chic) e busca nas fontes mais originais (jornais O Estado de S. Paulo, Diário Popular, Correio Paulistano, Folha da Noite, Diário da Noite, Gazeta Esportiva, Diário de São Paulo e outros) as informações genuínas para compor sua obra.

O livro é da Editora Senac, São Paulo, com edição de 2011

O jornalista descreve década por década os fatos mais importantes nacionais e mundiais, políticos e econômicos ocorridos nos anos 1920 (os Anos Loucos); nos anos 1930 (a Política “Café com Leite”); nos anos 1940 (uma São Paulo longe da Guerra); nos anos 1950 (uma São Paulo que se verticaliza); nos anos 1960 (liberdade e ditadura); nos anos 1970 (o Milagre Econômico” e a decadência) e segue até os anos 1980 pinçando notícias de época, ouvindo personagens, como José Carlos Alves de Souza, um dos atuais proprietários do Ponto Chic:

Quase no final de 1980 uma placa “aluga-se” anunciava que o velho casarão (um prédio de três andares com mais de 100 anos) onde nascera o Ponto Chic, em 1922, estava novamente disponível para locação, pois havia terminado a carência de três anos da denúncia vazia que motivara o despejo e o fechamento do bar. (…) Arregaçamos as mangas e, após três meses de reformas, o velho Ponto Chic ressurgira dos escombros para ser reaberto em seu antigo e tradicional endereço. 

“Ao anunciarmos a reabertura novamente o Ponto Chic ocupou as manchetes dos jornais e o noticiário de todas as rádios e TVs. A Rede Globo entrevistou antigos frequentadores e a matéria foi exibida no Jornal Nacional.”

Outros pontos chics

A marca Ponto Chic se espalhou pela cidade, são mais dois: um no Paraíso e outro em Perdizes. Mas sua fama voou fora, pelo Brasil e pelo mundo. Memórias foram gravadas naqueles que o visitaram, experimentaram um Bauru, trabalharam ali, ou simplesmente têm o endereço e o Bauru, como um simpático sanduiche, genuinamente brasileiro, genuinamente paulistano.

Essa combinação de rosbife, queijo derretido, tomate e pepino dentro de um pão francês, de tão simples e honesto virou chic.

Ao Ponto Chic, os nossos parabéns!


Serviço

Largo do Paissandu

Endereço: Largo do Paissandu, 27 – Centro – São Paulo (SP)
Horário de funcionamento: segunda-feira a sábado, das 12h às 20h.
Estacionamento: Av. Rio Branco, 66 – desconto para clientes
Delivery: tel. (11) 3222-6528

Paraíso

Endereço: Praça Oswaldo Cruz, 26 – Paraíso – São Paulo (SP)
Horário de funcionamento: diariamente das 11h às 2h.
Estacionamento: Av. Bernardino de Campos, 109 ou 79 – Locus Park (antes de chegar ao Ponto Chic); ou Rua do Paraíso, 139
Delivery: tel. (11) 3289-1480

Perdizes

Endereço: Largo Padre Péricles, 139 – Perdizes – São Paulo (SP)
Horário de funcionamento: diariamente das 7h à meia-noite.
Estacionamento: ao lado ou no pátio da Igreja São Geraldo
Delivery: tel. (11) 3826-0500

Informações: pontochic.com.br

 

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