GOL: nova chance para os Boeing 737 MAX  

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 A GOL anuncia que vai acelerar o processo de substituição e modernização da sua frota. Pretende terminar 2022 com 44 aeronaves do novo modelo Boeing 737 MAX 8, dos quais já tem cerca de 30 em uso. No total, este tipo de avião vai responder por 32% do inventário da empresa.

por Fábio Steinberg (especial para o DIÁRIO)


Por trás da decisão está a preocupação de não só reduzir custos operacionais, já que o MAX consome menos combustível, como em consequência emitir menos carbono na atmosfera. Não é para menos. De acordo com a GOL, o MAX é 15% mais econômico, gera 16% menos emissões de carbono, e é 40% mais silencioso comparado ao 737-800 NG.

Mas toda notícia tem dois lados. Neste caso, paira uma questão pouco abordada. É que não se trata apenas de mera modernização de aeronaves, mas de uma decisão no mínimo arrojada.

Com certeza a empresa deve ter excelentes argumentos para apostar em um avião que há quase quatro anos, logo depois de lançado, teve seu desempenho gravemente comprometido.

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Em outubro de 2018 um 737 MAX estalando de novo da companhia aérea Lion Air, da Indonésia, caiu no mar com apenas 13 minutos de voo, e matou seus 189 passageiros.

Dado o excelente histórico de segurança e qualidade da série 737, iniciada em 1967, ninguém acreditou que a causa do acidente pudesse ser um problema técnico do equipamento. Foi mais fácil culpar a imperícia dos pilotos, o que de fato ocorreu.

Só que menos de cinco meses depois, outro 737 MAX, desta vez da Ethiopian Airlines, caiu após cinco minutos da decolagem. Tirou a vida de 157 pessoas a bordo. Novamente a Boeing procurou insinuar que houve falha humana. Mas, nesta altura, especialistas e companhias aéreas já estavam com a pulga atrás da orelha.

Os relatos das caixas pretas dos dois aviões acidentados demonstraram a desesperadora luta dos pilotos em manter a estabilidade do voo. Foram vítimas de uma série de informações conflitantes nos instrumentos e avisos de perda de sustentação.

Afinal, surgiu um culpado. Foi o mau funcionamento de um sistema novo, que atende pela sigla MCAS (maneuvering characteristics aumengtation system). Aí veio a parte mais surpreendente: ninguém sabia da existência do tal dispositivo, que corrige automaticamente o ângulo da aeronave para que não empine.

Por que a Boeing não quis informar os pilotos sobre o mecanismo? Para não os sobrecarregar com excesso de informações, foi a resposta. Uma desculpa bastante esfarrapada, como se comprovou mais tarde.

Quem assistir o documentário Queda Livre: A Tragédia do caso Boeing, disponível na Netflix, que apresenta graves denúncias ao comportamento da empresa, vai constatar. Por trás da omissão se escondiam fortes interesses financeiros.

De acordo com o documentário, recheado de depoimentos e documentos, a Boeing queria estancar às pressas o avanço da concorrente Airbus com seu 320neo, de comprovada eficiência energética. E, claro, ampliar a margem de lucro. Para que pudesse acelerar a homologação, optou por apresentar o MAX como um aperfeiçoamento do velho e confiável 737. Para isto precisou esconder o MCAS no meio do manual da aeronave, como se não fosse algum tipo de inovação tecnológica de peso.

A Boeing pagou altíssimo preço por sua negligência. Várias companhias aéreas, inclusive nos Estados Unidos e Brasil, decidiram manter os MAX em terra até que os erros de projeto fossem corrigidos. Isto só ocorreu em novembro de 2020, após uma série de alterações técnicas, treinamento de pilotos e uma multa, só nos Estados Unidos de U$ 2,5 bilhões. O Presidente da empresa perdeu o emprego. Mas não ficou muito chateado: recebeu de indenização U$ 62 milhões.

Vão se passar muitos anos até a Boeing recuperar 100% de sua credibilidade centenária de fabricar aviões seguros e de qualidade, acima de suspeitas. O erro saiu muito caro, tanto em imagem como custos.

Passado mais de um ano do retorno dos 737 MAX à operação, a GOL se mostra confiante no equipamento. No ano passado, seus 28 aviões do mesmo modelo realizaram 16 mil voos. Foram 33 mil horas de voo, transportando 2,4 milhões de passageiros, sem registro de incidentes. Pela trajetória até agora, parece que o perigo ficou para trás.


FABIO STEINBERG é Formado em Jornalismo e Administração. Metade dos seus 36 anos de carreira corporativa foi dedicada à IBM Brasil. Tornou-se a seguir Diretor de Comunicação Corporativa e de Marketing da AT&T Brasil e presidente da Hill & Knowlton no Brasil, até assumir a Diretoria de Relações Externas da Rede Globo de Televisão. Colunista por um ano na revista Exame, é autor dos livros Ficções Reais , Viagem de Negócios e O Maestro. No momento acaba de escrever A Travessia, obra que deve ser publicada em breve. Por dez anos foi consultor em comunicação empresarial e desde então passou também a escrever textos jornalísticos, artigos, e resenhas de livros. Editou a revista Viagem de Negócios e colaborou para a revista Viagem e Turismo e Viagens SA . Atualmente, além do seu blog Turismo Sem Censura, colabora para o DIÁRIO DO TURISMO.
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