São Paulo e sua Síndrome da Bola Murcha

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De acordo com o Observatório do Turismo de São Paulo, 70% de quem visita a cidade chega a negócios, e por isto faz sentido retornar aos seus destinos de origem nos finais de semana

por Fábio Steinberg*

Todo fim-de-semana a mesma cena se repete na cidade de São Paulo. Lembra uma escola primária quando toca a campainha de saída. Mal termina o expediente e os viajantes de negócios passam a disputar lugar com os próprios moradores da Capital nos aeroportos e nas estradas – todos a caminho de qualquer outro destino.  

Em um movimento que equivale nos dias de semana a uma boa cheia que se esvazia aos sábados,

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domingos e feriados, a ocupação de hotéis despenca. Situação parecida ocorre com todos os demais segmentos associados direta ou indiretamente ao turismo – bares, restaurantes, indústria do entretenimento, táxis e comércio, entre tantos outros.

De acordo com o Observatório do Turismo de São Paulo, 70% de quem visita a cidade chega a negócios, e por isto faz sentido retornar aos seus destinos de origem nos finais de semana. Só que aqui não se trata de ir embora de qualquer lugar, mas de uma das megalópoles mais interessantes e diversificadas do planeta.

São Paulo não merece esta debandada. Oferece de tudo para todos os gostos. Restaurantes, bares, casas de shows, museus, passeios, compras. É considerada a quarta melhor vida noturna do mundo, e principalmente gente muito bacana. Isto sem falar nas atrações. Como, por exemplo, o Parque do Ibirapuera, eleito um dos dez melhores do mundo. Ou Vila Madalena, incluído entre os vinte bairros mais descolados do planeta.

“Há uma tendência das taxas de ocupação do sábado e o domingo se aproximarem cada vez mais dos dias de semana”, anima-se Toni Sando, Presidente Executivo do São Paulo Convention & Visitors Bureau (também conhecido como Visite São Paulo), organização de marketing de destino sustentada por contribuições privadas, só quase que exclusivamente hotéis.

 “Há uma tendência das taxas de ocupação do sábado e o domingo se aproximarem cada vez mais dos dias de semana”, anima-se Toni Sando, diretor-executivo do São Paulo Convention & Visitors Bureau

Apesar do louvável esforço de Sando e sua equipe, e um restrito sucesso de alguns projetos ao longo do anos mas com vida curta, fica evidente que ainda há um longo caminho a explorar. Atrair visitantes nos fins de semana é um desafio que deveria mobilizar todos que fazem parte do ecossistema do turismo de São Paulo.    

No esforço concentrado para conquistar visitantes fora dos dias de semana é bom se mirar em bons exemplos de cidades que conseguiram reverter este quadro, que é universal. É o que demonstram dados exclusivos, fornecidos pelo STR – empresa internacional especializada em informações e análises de hospitalidade. Dois exemplos: em 2016 New York alcançou a média de ocupação hoteleira nos sábados e domingos de 88,3%, enquanto que Londres chegou a 83,2%.

Enquanto isto, São Paulo não ultrapassou os 56,6%, quase igual à Cidade do México (56,1%). Convenhamos: é muito pouco! Significa que em média quase a metade dos quartos dos hotéis paulistas ficaram vazios nos finais de semana. Por falta de estatísticas confiáveis ou inexistentes, infelizmente não é possível avaliar a ociosidade de outros setores complementares que também poderiam se beneficiar do turismo mais intenso no fim de semana. Como, por exemplo, os restaurantes. Basta prestar atenção nas ruas da Capital nestas ocasiões para concluir que, exceto em poucos casos privilegiados, a maioria ou está fechada ou tem boa parte das mesas e cadeiras às moscas.

Já em New York é bem diferente. A NYC & Company, agência independente gerida por profissionais, centraliza a responsabilidade compartilhada de seus dois mil associados para atrair mais visitantes. Das contribuições financeiras que recebe, apenas 28% provêm de hotéis. O resto é do comércio (22%), alimentação (20%), transporte (18%) e entretenimento (11%), além de museus, operadoras de turismo e atrações, entre outros. Conta também conta com verbas governamentais, não como subsídio, mas na condição de sócios, porque sabe que igualmente vai se beneficiar com a arrecadação de impostos e taxas com a maior movimentação de visitantes.

*Fábio Steinberg é jornalista
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