O Anel Encantado – Crônica de Osvaldo Alvarenga

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“Você come um pêssego e saboreia a fruta. Em seguida, você pode jogar fora o caroço ou pode quebrá-lo com uma pedra e saborear a castanha que tem no seu interior”. Assim são os contos Sufi; que há séculos vêm sendo usados para transmitir ensinamentos. São histórias às vezes engraçadas, aparentemente ingênuas ou absurdas e com várias camadas de significado. Hoje não falo de viagens, compartilho a história de um certo anel encantado que, seja nos momentos de intenso sofrimento ou naqueles de grande euforia, nos ajuda a voltar ao equilíbrio. 

Contam os antigos que um rei poderoso, que governava muitos domínios, depois de um sonho convocou os sábios do reino para uma reunião:

— Não sei o motivo, mas preciso encontrar alguma coisa que sirva para me inspirar em cada momento da vida. Quero algo que me conforte quando eu estiver feliz ou quando eu estiver triste; que eu possa usar ante às vitórias e às derrotas. Preciso encontrar uma inspiração que faça equilibrar meu estado de ânimo. Que seja um conselheiro para quando eu não tiver com quem me aconselhar, e que responda a todas as perguntas. Preciso que vocês procurem e me tragam uma tal preciosidade.

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Os sábios ficaram surpresos e, sem entender o que significava aquele pedido, se puseram a discutir entre eles. Após intensos debates e profunda análise, decidiram procurar os grandes mestres por todas as terras conhecidas. Muito tempo passou até que voltassem com a resposta. Traziam com eles um magnífico anel de diamantes que continha palavras mágicas grafadas no lado de dentro do aro.

O mais velho entre os sábios do reino, o conselheiro mais experiente, foi escolhido para comunicar ao rei a resposta que tanto ansiava. Aproximou-se do governante e pediu que ele estendesse a mão para receber a jóia. Depois de colocar o anel no dedo real anunciou:

— Este anel contém gravado no seu interior uma mensagem oculta que não pode ser revelada apenas por curiosidade, porque nesse caso perderá todo o seu significado. Vossa Majestade terá que levar sempre consigo essa jóia, mas só poderá ler as palavras nela contidas em caso de extrema necessidade; somente quando sentir-se só e em desalento.

O rei ouviu o conselheiro com atenção e na frente de todos fez o juramento que manteria o anel no dedo e só leria as palavras mágicas quando estivesse em desespero extremo.

Tempos depois, houve um ataque surpresa e o castelo foi tomado pelos invasores. Apesar da sua bravura, o rei foi obrigado a fugir para salvar a própria vida e preservar a coroa de seu reino. Seus oponentes não teriam piedade se o capturassem, tomariam o trono, e seus súditos estariam perdidos.

Enquanto fugia, o rei podia ouvir o som dos cascos dos cavalos dos inimigos que seguiam no seu encalço. Os cavaleiros que o acompanhavam, e que lutaram ao seu lado desde a invasão, foram caindo pelo caminho. Seu cavalo morreu de cansaço. A pé, o rei passou a correr. Exausto e com os pés sangrando, procurou um lugar para esconder-se daqueles que o perseguiam cada vez mais de perto. Subiu por um caminho íngreme, um monte só de pedras, até chegar ao topo, num ponto onde não havia saída. A trilha chegou ao fim. Não havia mais nada à sua frente senão um desfiladeiro profundo. Os sons que ecoavam das patas dos cavalos pisando forte o solo indicavam que vinham a galope e que estavam perto. De súbito, o rei decidiu saltar, mas, ao atingir a beira do abismo percebeu que não teria chance: se chegasse vivo lá abaixo, teria que enfrentar a ferocidade de leões famintos à procura de caça. Não podia pular, não podia ficar, seus algozes chegariam logo. Ele sentiu que vivia os seus momentos finais. Estava desesperado. Não restava mais tempo. Foi quando o rei tirou o anel do dedo e leu as palavras gravadas no seu interior:

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Naquele instante o rei teve uma profunda compreensão e uma grande tranquilidade se abateu sobre ele. Tudo silenciou. Seus inimigos não o viram, seguiram noutra direção. Finalmente o rei pôde descansar. Dormiu por longo tempo, e quando acordou seguiu em passos firmes na direção do castelo. No caminho conseguiu reunir o seu exército, camponeses juntaram-se ao monarca, e juntos lutaram contra os tiranos. Meses depois de renhidas batalhas, os invasores foram expulsos do reino. De volta ao castelo o rei reassume a sua condição de soberano e senhor de muitos domínios.

Os dias que se seguiram foram de grande euforia e muitas celebrações por todos os cantos do reino. O povo estava feliz, dançava nas ruas iluminadas por fogos de artifício. O rei sentia-se radiante, pleno e poderoso. Sentia uma euforia tão grande que achou que poderia morrer. Então tirou o anel do dedo e novamente leu as palavras:

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E uma vez mais aquela revelação acalmou o seu coração.



*Osvaldo reside em Lisboa e escreve para os blogs: Flerte, sobre lugares e pessoas e Se conselho fosse bom…, sobre vida corporativa e carreira. Atuou por 25 anos no mercado de informações para marketing e risco de crédito, tendo sido presidente, diretor comercial e diretor de operações da Equifax do Brasil. Foi empresário, sócio das empresas mapaBRASIL, Braspop Corretora e Motirô e co-realizador do DMC Latam – Data Management Conference. Foi diretor da DAMA do Brasil e do Instituto Brasileiro de Database Marketing – IDBM e conselheiro da Associação Brasileira de Marketing Direto – ABEMD, dos Doutores da Alegria e, na Fecomercio SP, membro do Conselho de Criatividade e Inovação.

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