Mundo digital: uma passagem apenas de ida para o mercado rodoviário

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Por José Almeida, CEO e fundador BuscaOnibus

Fazer uma viagem de avião no Brasil não requer muita complicação. Pesquisamos uma série de opções, preços e trajetos nos sites de metabusca, recebemos o bilhete no celular e podemos fazer o check-in automaticamente. Quem procura hospedagem em outra cidade ou precisa de locomoção também tem uma série de opções e facilidades.

Por que o mesmo não ocorre no mercado rodoviário? Estamos falando de um setor que estimamos ter transportado, somente em 2016, quase 280 milhões de passageiros de acordo com dados da ANTT e estimativas a partir de pesquisas realizadas no BuscaOnibus.

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Há 10 anos, fiz uma longa viagem percorrendo o litoral brasileiro de ônibus, de Florianópolis a Fortaleza, e senti muita dificuldade para obter informações sobre que companhias faziam quais trajetos, as melhores opções, variação de preço etc. Foi a motivação para criar, logo que voltei da maratona rodoviária, um site reunindo informações de diversas viações que servisse como referência aos viajantes. O BuscaOnibus hoje opera mensalmente mais de 12 milhões de pesquisas de preços, horários e trajetos por meio de um banco de dados com mais de 160 viações nacionais e internacionais na América do Sul. Assim, nos consolidamos como um gerador de leads (clientes) para empresas e agências de viagem online (as OTAs) e referência para mais de 21 milhões de pessoas só em 2017.

O crescimento não ocorreu por mágica – é fruto do pioneirismo numa ainda tímida entrada do mercado rodoviário no mundo digital. Digo tímida porque apenas 6% do total de passagens de ônibus no Brasil são vendidas online. Ainda é preciso vencer algumas restrições burocráticas para mudarmos este cenário, como a adoção dos bilhetes eletrônicos, evitando a obrigação de retirar em papel nos guichês (o primeiro foi emitido no início deste ano, e a tendência deve se espalhar pelo país nos próximos meses), a maior liberdade para as empresas de viação e agências online fazerem promoções e variação de preços, ou mesmo a liberação das concessões de linhas, prevista para breve.

A boa notícia é que parte destas restrições vão desaparecer já em 2018, e juntamente com a adoção cada vez maior de ferramentas digitais por parte do consumidor, a tendência é cada vez mais que a experiência de planejar e reservar as suas viagens de ônibus se aproxime do que acontece no setor aéreo.

Bilhetes eletrônicos finalmente

É real, finalmente teremos bilhetes eletrônicos nas passagens de ônibus. Desde 2016, alguns projetos-pilotos são desenvolvidos para emissão de bilhetes eletrônicos, com o objetivo de desburocratizar o sistema de emissão fiscal. Até então, as empresas precisam usar uma máquina específica, homologada pela Secretaria da Fazenda (SEFAZ) de cada estado.

Finalmente, com a liberação de um sistema 100% eletrônico para a emissão de bilhetes, desenvolvido pela SEFAZ-MS, teremos bilhetes eletrônicos em todo o Brasil, pelo menos teoricamente. As empresas de viação precisam, primeiro, aderir ao sistema, mas algumas das maiores empresas de viação, como a Eucatur, Andorinha, Ouro e Prata, entre outras, já deram os primeiros passos. Com esta medida, a compra de passagens online passa a ser bem mais vantajosa, já que agora o viajante que compra online, sequer terá que buscar o bilhete no guichê. Imprima o seu bilhete e vá direto para o embarque!

Variação de preços e (muitas) promoções

Quem não gosta de promoções? Até pouco tempo atrás, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) não permitia a variação de preços das passagens sem a autorização prévia. A razão até era nobre, impedindo as empresas de viação de cobrar preços muitos altos em períodos e trechos com maior demanda. Mas, na prática, dificultava também a competição livre de preços, promoções temporárias ou estratégias de flutuação de preços que garantam uma maior lotação dos ônibus em períodos e trechos com menor demanda.

Um dos responsáveis de uma empresa de viação catarinense me falou recentemente que alguns trechos têm ônibus lotados às sextas, sábados e domingos, mas durante a semana não conseguem sequer encher metade do ônibus. E se o preço de segunda a quinta-feira for 20% mais barato? A mágica é que podemos conquistar novos viajantes e aumentar mercado com a mesma frota. Bom para todos!

Com as recentes mudanças, as empresas de viação e as agências online podem agora trabalhar os preços de forma a otimizarem a utilização dos serviços. Quanto ao viajante, continua garantido o valor de tarifa máximo, por parte da ANTT.

Mais e melhores ônibus, por favor

A última grande revolução ainda não chegou, mas há rumores que ocorrerá breve. Pelo menos é o que se ouve nos bastidores da indústria. A tão esperada liberação das concessões de linhas, que permitirá maior concorrência entre as empresas do setor, poderá acontecer nos próximos anos. Com isso, esperamos uma boa melhoria do serviço de transporte rodoviário, incluindo mais e melhores ônibus em linhas que hoje sofrem com o monopólio de uma ou duas empresas, além da abertura de novas linhas que atualmente carecem de um serviço mínimo.

Mas nem tudo é vantagem em um sistema mais liberal. O mercado europeu sofreu recentemente, de forma inversa, com a liberação da concessão de linhas em alguns países da região central. A gigante alemã FlixBus tomou conta do mercado europeu de viagens de ônibus em apenas quatro anos, quebrando ou absorvendo grande parte das empresas de viação de menor porte, além de enfraquecer as agências online e sites de metabusca nesse mercado. A falta de concorrência não costuma trazer bons resultados para os usuários, então esperamos que sejam tomadas medidas que dificultem o aparecimento de monopólios semelhantes no Brasil.

Por terra ou pelo ar?

Em termos de infraestrutura, viajar de ônibus tem sido uma experiência melhor nos últimos anos, com maior disponibilidade de wi-fi, veículos mais modernos, melhores estradas e também pelo fato de que os terminais rodoviários costumam ficar em regiões centrais da cidade, reduzindo o custo e o tempo de deslocamento em comparação com alguns aeroportos do país. A comparação é injusta quando se fala em grandes distâncias (a partir de 800 km), mas se formos avaliar trajetos médios (300km a 500km), o tempo perdido com imprevistos comuns em voos (atrasos de aeronave, condições climáticas) podem fazer os usuários preferirem a pontualidade e regularidade dos trajetos de ônibus. Existe ainda uma grande vantagem no quesito bagagem, que enquanto no aéreo passou a ser cobrada qualquer bagagem despachada, no ônibus é possível transportar até 30 quilos sem cobranças de taxas.

Conclusão: o mindset digital que está sendo impulsionado por startups, agências online e empresas de metabusca, somado à demanda do consumidor por facilidades e mais informação, deve tornar o mercado rodoviário brasileiro cada vez mais próximo da experiência com o setor aéreo e hoteleiro. Isso significa mais oportunidades de negócios e empregos em um momento decisivo para o país.

José Almeida, CEO e fundador BuscaOnibus (Crédito: divulgação)
José Almeida, CEO e fundador BuscaOnibus (Crédito: divulgação)
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