Arquiteta Priscilla Bencke: ‘ambientes inadequados ajudam na depressão, outros, aumentam a produtividade’

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RETRÔ 2018 – Publicado dia 19 de outubro

Algumas doenças podem ser desenvolvidas pela falta de cuidado no projeto arquitetônico de uma empresa seja no ambiente executivo seja no operacional.

REDAÇÃO DO DIÁRIO

De acordo com a arquiteta especialista em ambiente de trabalho e criadora do conceito Qualidade Corporativa no Brasil, Priscilla Bencke a decoração dos ambientes, as cores, a iluminação, o mobiliários, a presença ou não de vegetação, etc., podem fazer uma diferença enorme na saúde das pessoas, aumentando ou diminuindo sua atividade e desempenho. O DIÁRIO conversou com a arquiteta, confira:

DIÁRIO – É muito comum compreendermos que luzes diretas, ventilação inadequada, ambientes abafados afetam a saúde seja da pele, ou dos aparelhos respiratórios. Mas quais as principais doenças que podem advir de um projeto arquitetônico mal elaborado ou sem harmonia?

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PRISCILLA BENCKE – Podemos dividir tanto em questões de prejuízos da saúde física quanto prejuízos da saúde psicológica; na física incluímos além de respiração, as questões por exemplo de fadiga visual, fruto do mal posicionamento da própria iluminação, isso acarreta uma série de problemas como desmotivação, dor de cabeça, enfim.  Quanto ao mobiliário, uma postura inadequada pode gerar problemas na coluna; e até hérnia de disco assim como outras questões relacionadas à postura.

Estar em um ambiente com muitos ruídos ou em um ambiente que não te ofereça um bem estar pode intensificar questões de ansiedade de estresse no trabalho, coisas que a gente percebe como as principais causas de baixa produtividade.  De acordo com o recente relatório mundial publicado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), sobre a saúde dos brasileiros em relação a esses transtornos, verifica-se que quase 10% da nossa população sofre de ansiedade, o Brasil é o país da América Latina com a maior taxa de pessoas com depressão, então são números muito graves e essas pessoas estão trabalhando e isso acontece de forma imperceptível. Então o ambiente pode sim contribuir para esse prejuízo também psicológico.

DIÁRIO – Empresas contemporâneas criaram espaços de convivência muito modernos, arejados e iluminados. Eles podem ser prejudiciais? por quê?

PRISCILLA BENCKE – Sim. Foram criados espaços de relaxamento nas empresas, e podemos chamá-los de espaços de descompressão. Quando ele pode se tornar prejudicial? A localização dessas áreas muito próximas à estação de trabalho pode gerar desconforto acústico. Ambientes de descompressão devem estar alinhados à cultura da empresa. Às vezes você pode investir mesmo um valor considerável montando esses espaços só que não vai funcionar se não fizer parte da cultura da empresa. Existem muitas empresas que até hoje as pessoas batem o ponto e querem ali implantar a cultura da descompressão. Acredito que deve existir uma coerência muito assertiva para criar ou utilizar esses espaços dentro das empresas se não houver uma cultura que aponte para isso. Não adianta uma cultura empresarial vertical, uma hierarquia vertical e daqui a pouco essa empresa querer replicar um modelo de áreas colaborativas estilo Google, não vai funcionar.

Outro ponto é analisar quem são as pessoas que trabalham nessa empresa, porque isso também influencia a forma de como esse espaço deve ser montado; temos hoje gerações muito diferentes com expectativas muito diferentes, com necessidades muito diferentes; a gente precisa olhar para o ser humano para as pessoas que trabalham ali para ver o que de fato vai funcionar para aquelas pessoas. E, por fim, eu acho que o tipo de atividade que as pessoas executam em um ambiente de trabalho também precisa ser coerente com o ambiente.

Google office
Espaço Google: gerações diferentes, com expectativas diferentes, com necessidades diferentes

DIÁRIO – Fale sobre a neuroarquitetura. Ela já é usual no Brasil?

PRISCILLA BENCKE – Ainda é um assunto novo no Brasil mas fora do Brasil a gente já vê muitos estudos, muitas pesquisas sendo feitas existe uma academia que já estuda esse assunto nos Estados Unidos a mais de 15 anos que se chama ANFA (Academy of Neuroscience for Architecture) e hoje centraliza todas essas pesquisas do mundo. A gente está começando um movimento no Brasil, inclusive com grupos de estudos com cursos sobre o assunto para justamente estimular tanto nos projetistas, nos arquitetos designers essa visão mais humana dos ambientes de trabalho.

No âmbito da hotelaria no Brasil percebo grandes avanços. Existe uma prática denominada employee experience de você realmente criar um ambiente agradável que vai inclusive passar confiança, que vai fazer com que esse cliente se sinta mais à vontade e consequentemente vai poder fechar mais negócios nesses lugares, no caso, nos hotéis. Tudo isso tem sido trabalhado de forma muito estratégica muito inteligente mesmo, para que todo mundo saia ganhando, tanto as pessoas que trabalham quanto os clientes que vão ter uma boa experiência dentro desses locais, absorvendo-se uma melhor sensação de bem estar, melhora a lucratividade e os negócios acontecem.

 

 

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