Família Schumacher no Brasil: uma história de alquimistas

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Se a Alquimia é uma prática dos antigos que combinavam a Química, a Física, a Metalurgia e uma série de outras ciências, podemos dizer que Werner Schumacher é um alquimista pós-moderno.

por Paulo Atzingen*


Aliás, para entender a alquimia da família Schumacher no Brasil é preciso retroceder algumas décadas na história.

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Com uma memória acurada Werner Schumacher enumera com precisão nomes de ruas, bairros, datas e fatos de seus avós maternos e paternos ainda na Alemanha e sua primeira, segunda e terceira infância às margens das águas do lago Guaíba, em Porto Alegre.

Werner experimentou seus primeiros goles de vento e sol na antiga rua Arlindo, atual avenida Érico Verissimo. Aos cinco anos, a família se mudou para uma casa na rua prof. Duplan, no bairro Rio Branco. Neste bairro ergue-se (ainda hoje) o Instituto Porto Alegre – IPA – uma escola metodista – onde ele estudou do pré-primário ao ginásio (atual ensino fundamental).

Werner Schumacher (ao colo) com os irmãos Guilherme Raúl e Ingrid Júlia e os pais Virgínia Waleska e Guilherme Eduardo Schumacher (Álbum de Família)

Boas lembranças

Dos tempos em que jogava bola sobre paralelepípedos ou bolinha de gude em uma rua sem calçadas na década de 60, restaram-lhe boas lembranças e um grande crédito: os amigos Marcos Antônio Alves da Silva e Carlos Guinsburg, que resistiram aos sóis e intempéries.

Era tempo, recorda ele, em que as famílias se visitavam com mais naturalidade sem a necessidade de datas especiais impostas pelo calendário.

No raiar dos seus 20 anos dois fatos ocorreram quase que simultaneamente na vida de Werner: passara no vestibular ingressando na Faculdade de Economia da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Porto Alegre, e precocemente, ainda com 21 anos, tornaria-se pai.

Bentonita para Metrô de São Paulo

Esse pai de primeira viagem recebe uma missão: tocar o escritório da filial da empresa em São Paulo e experimentar o ritmo frenético e empresarial da cidade; forjaria-se aí o moço ao mundo dos negócios.

Bentonita, uma argila multiuso (Crédito: arquivo DT)

“A filial tinha sua razão de ser. Meu pai vendia muitos produtos para São Paulo e acabei morando dois anos na rua Aurora, no centro da capital. Foram anos difíceis, em uma cidade estranha, recém-casado e com minha filhinha, Waleska, que ali nascera”, afirma Werner à reportagem.

Entre os produtos vendidos por Schumacher, destaca-se a Bentonita, que auxiliaria a empresa do pai a ganhar o grande mercado que sempre foi São Paulo.

“A bentonita era importada da Argentina por nossa empresa e comprada em grande escala pelo governo de São Paulo para ser usada nas obras do Metrô”, lembra.

Essa argila multiuso chamada bentonita serve pra uma série de coisas; dar um tom mais claro aos vinhos, fortalecer o sistema imunológico das pessoas a até auxiliar na perfuração de poços e obras de engenharia. Fundamental nas obras do Metrô, sua reação química em contato com a água servia para, por exemplo, evitar o desmoronamento das inúmeras crateras perfuradas na linha norte-sul da capital paulista, inaugurada em 1974.

Dentre os enigmas que pairam nos processos químicos e físicos da alquimia, a substância bentonita teve sua contribuição nesta história. A filha de Schumacher, Waleska, que nasceu na Terra da Garoa**, viria a ser muitos anos depois uma alquimista da escola de Baco.

Ancestrais alquimistas

O avô paterno de Werner foi mestre de uma fundição em Essen (próximo a Colônia e Dusseldorf. O tio-avô Adolfo Wolff teve uma fundição em Esteio (RS). Já o tio-avô materno de Werner foi sócio de uma fundição em Estância Velha (RS), próximo à São Leopoldo.

Essa vocação de seus avós em ver o metal líquido ser moldado a centenas de graus e transformado em peças, ferramentas ou algo útil na vida prática foi o sopro empreendedor que tomou as narinas de Werner Schumacher, lá atrás.

Werner, com 7 anos (Álbum de Família)

“Meu avô Werner, sócio de uma fundição em Estância Velha foi pra Alemanha comprar maquinário para a fundição. Só que teve um detalhe: estourou a Segunda Guerra Mundial. Acabou voltando só depois do fim da guerra”, conta Werner.

Seu pai, Guilherme Eduardo Schumacher, por volta de 1940 já bebericava a vocação em transformar matéria bruta em algo útil e de uso doméstico, mergulhava naquele mistério de alterar moléculas e a composição química das lâminas de metal.

“Meu pai começou a importar produtos usados em fundição e metalurgia (cromagem) e sua empresa cresceu”, lembra.

Ao se conhecer um pouco mais da história dos Schumacher, vamos entendendo como os enredos das pessoas e das famílias vão se forjando ao longo do tempo, se acomodando em um grande decanter de feitos e realizações, às vezes impalpáveis, que não se consegue segurar com as mãos. Uma alquimia refinada que o tempo esmaga e transforma em partículas leves, dispersas que voam com o vento.

Uma alquimia refinada que o tempo esmaga e transforma em partículas leves, dispersas, que voam com o vento (Crédito: arquivo DT)

Os alquimistas da antiguidade buscavam a criação de um elixir para a vida eterna, procuravam uma substância que transformasse metais em ouro.

Ao conhecer um pouco mais a história de Werner Schumacher, e sua contribuição à indústria da vitivinicultura brasileira, vimos que ele ajudou a transformar os planos e materializar os sonhos de muitos plantadores de uva do Brasil. Como um alquimista, mudou a estrutura dos sonhos e transformou os planos de agricultores em uma substância valiosa como o ouro, e que por pouco, muito pouco, não nos leva à vida eterna: o vinho.


*Paulo Atzingen é jornalista

** São Paulo

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1 COMENTÁRIO

  1. Matéria muito atraente e interessante. Demonstra que bons conteúdos, mesmo aparentemente pouco relevantes, ganham vida quando costurados e vinculados à trajetória/história de pessoas. De quebra, a saga dos Schumacher resgata o caráter misterioso e até mesmo enigmático da alquimia… Parabéns, Paulo!

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