Museu Kura Hulanda, de Jacob Gelt Dekker, perde seu criador

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O que levou o holandês Jacob Gelt Dekker, que morreu no último dia 1º de setembro, a construir o maior acervo da história da escravidão no Novo Mundo em Curaçao?

Por Paulo Atzingen*

O Museu Kura Hulanda, localizado em um beco do bairro de Otrobanda, na capital de Curaçao, é um exemplo clássico de que as grandes obras e as grandes ideias nascem do amor a uma causa, ou a um ideal. E ao que tudo indica o holandês Jacob Gelt Dekker tinha esse amor, esse ideal.

Toda a ilha de Curaçao respira ainda a dominância holandesa, seja na indústria, nas funções politicas e no comércio, mas o Kura Hulanda é um retrato da força brutal usada pelos navegadores (espanhóis, portugueses e holandeses) na conquista e na exploração do Novo Mundo.

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A guia local Florentina Yflen explica que a ilha foi um entreposto comercial de escravos entre o século XVI e XVII. “Daqui os negros eram distribuídos para os países do Caribe, para o Brasil”, analisa.

Peças que representam a intolerância racial de outros países também compõem o acervo como as do Ku Klux Klan, dos Estados Unidos (Crédito: Paulo Atzingen)

Tristeza

Florentina está triste, mas não é a tristeza de ser neta de escravos e reviver diariamente a épica história de seus ancestrais, relatada em seu trabalho. Essa tristeza é porque Jacob Gelt Dekker morreu dia 1º de setembro, aos 71 anos.

“O senhor Dekker morava na Holanda. Era dentista e tinha dois negócios. Um deles era relacionado com serviço de fotografia (One hour photo-service) e outro de aluguel de carros (Budget Rent a Car). Vendeu esses negócios lá e veio para cá em 1995, para um lugar que estava em ruínas e comprou, para começar a reconstrução de sua própria casa em 1998”, relata Florentina ao DIÁRIO em tom de lamento, enquanto nos leva a conhecer as dependências do museu.

Florentina está triste. Essa tristeza é porque Jacob Gelt Dekker morreu dia 1º de setembro, aos 71 anos. (Crédito: Curaçao News Paper)

Exemplares do mundo todo

Fontes oficiais informam que em 1998, o governo da ilha de Curaçao concedeu a Dekker permissão para reformar um bairro abandonado do bairro de Otrobanda em um hotel e cassino, que posteriormente entrou em falência em 2013. Nas mesmas instalações, Dekker fundou o Museu Kura Hulanda.

O Museu Kura Holanda abriu suas portas ao público em 19 de abril de 1999. Com mais de 2 mil peças em seu acervo, foi totalmente criado e idealizado por Dekker. “Ele trouxe exemplares do mundo todo onde identificou a escravidão”, informa Florentina enquanto nos mostra um instrumento de tortura onde o negro era preso e mantido até a morte.

Duplo legado

Com parte de sua renda oriunda do Hotel Kura Hulanda e do instituto que tem o seu nome, Gelt Dekker deixa um legado comercial e histórico para Curaçao. Resta saber quem administrará esses empreendimentos.

“Ele gostava muito da cultura africana. O que ele fez com o museu foi dizer a nós curaçaleños a origem e a história de nosso povo. Isto aqui explica de onde nós saímos”, enfatiza a guia.

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SERVIÇO:

Kura Hulanda Museum

Museu de  arte africana, história e exposições relacionadas ao tráfico de escravos.

EndereçoKlipstraat, Willemstad, Curaçao

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*O jornalista Paulo Atzingen viajou com bilhetes da RXT Travel Operadoraseguro GTA e tem o apoio de Curaçao Tourist Board.
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