por Paulo Atzingen*

“O homem a todo instante perde os sentimentos humanos e a sua expressão. A poesia lhos devolve “. Max Jacob, poeta francês.

 

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Quem escreve poemas
Bah, Tchê
Não ouve os desabrigados pela enchente
nem o lamento dos flagelados
transmitidos pelas mídias sociais
pelas TVs e jornais
Não sabe o número exato de mortes
nem identifica se a força das águas
é castigo divino, destino ou má-sorte.

Ao contrário
Quem escreve poemas
sente a água no pescoço
e a escuridão da rua
que virou rio
penetrou poros, nuca, mãos, dedos
rosto
encharcou a alma
sem alvoroço
abriu um buraco no coração
da fundura de um poço.

Quem escreve poemas
Bah, Tchê
não tem essa visão de grandeza
vista de uma espaçonave
um satélite
que voa sobre o planeta azul
mandando imagens reais
do cataclismo climático
no Rio Grande do Sul.

Quem escreve poemas
Bah, Tchê
não vê as coisas do alto.

Ao contrário
Quem escreve poemas
vai direto ao coração da pessoa
sondar se ela tem
vontade em construir em si mesma
a dor de alguém
que perdeu casa, carro, roçado
tia, tio, primo, cunhado
tudo o que tem
e mesmo assim
na ausência
dá a volta por cima
agradece à vida
por sua Querência.

Quem escreve poema
Bah, Tchê
empresta eletricidade à casa
em escuridão
que à mercê do tempo
ficou exposta aos projetos
do homem em seu sonhos
de ambição .

Quem escreve poemas
Bah, Tchê
não tem a exatidão do estrategista
do engenheiro urbanista
ou empresário do agronegócio
que projetaram fartura
e glória econômica ao estado
e ao sócio.

mas ao contrário
Quem escreve poemas
Bah, Tche
usa a palavra como um motor
que salva cavalo, gente, cachorro
ressalta o trabalho, do soldado, bombeiro,
o herói da Defesa Civil
que prestam socorro
e de forma sutil.
oferecem amor.

Quem escreve poemas
Bah, Tchê

em nome de uma causa maior
não procura culpados ou responsáveis
por uma tragédia
mas
se ajoelha rente ao chão
e transforma galões de água
sacos de arroz, farinha e açúcar
em poderosa oração.

Quem escreve poemas
Bah, Tchê
tem coração de guri
chora pelo Rio Grande
de Manaus ao Recife
do Oiapoque
ao Chui.

*Paulo Atzingen é jornalista, Fundador do DIÁRIO DO TURISMO.

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