João Pita, gerente de negócios aéreos do GRU Airport: “Há algo no Brasil que não permite a criação das low cost”

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No primeiro dia da WTM – Latin America, que acontece no Expo-Center Norte, em São Paulo, o DIÁRIO entrevistou o gerente de negócios aéreos do Aeroporto de Guarulhos (GRU Airport), João Pita. Nesta conversa com o editor do DIÁRIO, jornalista Paulo Atzingen, João fala sobre o momento de grandes desafios em função da redução do ICMS do Estado de São Paulo para o combustível, do crescimento de 15 milhões de passageiros internacionais em 2018 (num total de 42,2 milhões com os nacionais só em Guarulhos), e da necessidade urgente do aumento de rotas no interior de nosso país, entre outros assuntos. Acompanhe, abaixo a entrevista completa:

DIÁRIO – João, o mercado aéreo nacional está praticamente estabilizado. Nós temos três ou quatro companhias aéreas que dividem o market-share, mas as negociações com as companhias aéreas internacionais, principalmente agora com a assinatura dos Céus Abertos, isso abre novas perspectivas, correto?

JOÃO PITA – Sim. Começando pelo lado doméstico, nós achamos que esse é um momento de grandes desafios, mas também de grande entusiasmo, por que a redução de ICMS do estado de São Paulo, a necessidade de ligar mais cidades no Brasil, pois há menos cidades ligadas por aviação do que havia há 20 anos atrás. Isso significa que há cidades que hoje não tem ligação por voos e já tiveram no passado. Então nós precisamos retomar a pauta do aumento de conexões diretas. A Gol anunciou seis novos destinos partindo do aeroporto de Guarulhos, um deles é Rio Branco, esses são exemplos de que o mercado está pulsante.

O mercado doméstico está em alta, aliás, como acontece quando há uma movimentação econômica. Nosso drive é ter mais cidades atendidas a partir de Guarulhos e com isso ficamos com o hub mais forte, que consegue conectar melhor as pessoas dentro do Brasil, ou Brasil com o exterior.

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E vem a segunda parte dessa questão, que é a área internacional. Nos tivemos um ano de 2018 muito bom. Praticamente 15 milhões de passageiros internacionais, 64% de market-share do Brasil, então nós precisamos continuar crescendo.

DIÁRIO – Então, 2018 teve crescimento bem maior que 2017?

JOÃO PITA – Sim, muito maior. Ano passado, tivemos mais de 10% de crescimento, passamos de 38 para 42 milhões de passageiros e, em janeiro de 2019, quebramos o recorde e pela primeira vez atingimos a marca de quatro milhões de passageiros em um só mês. O mercado reagiu bem, agora veremos o resto ano.

Do lado internacional nós precisamos, em primeiro lugar, ter mais rotas dentro do nosso continente. Nós temos menos cidades servidas dentro da América do Sul do que na Europa e Estados Unidos. Então, nós temos que ter mais ligações daquilo que chamamos de regionais. Um exemplo: no Chile, nós temos 15 voos por dia para Santiago, porém, não servimos mais nenhuma cidade e, na Colômbia, só temos voos para Bogotá. Então essa é a primeira prioridade.

Do lado internacional nós precisamos, em primeiro lugar, ter mais rotas dentro do nosso continente

A segunda é servir novos destinos no Caribe, enquanto grande região de turismo e grande atrativo turístico para o mercado do Brasil. São Paulo é um grande emissor de turistas, nós precisamos abrir essas rotas como novo potencial de crescimento de demanda.

Em terceiro, obviamente, os mercados tradicionais, como Europa, Estados Unidos, Canadá. Estamos sempre buscando novos destinos e estamos muito certos depois de termos anunciado Londres e da Air Canada ter anunciado Montreal, um voo para dezembro e o outro para início do próximo ano e, nos próximos dias haverá mais uma ou duas novidades no setor internacional.

GRU AIRPORT: maior aeroporto do país (divulgação)

DIÁRIO – A abertura de capital internacional nas companhias aéreas também aumenta o potencial de novas companhias aéreas aqui no Brasil?

JOÃO PITA – Sim, aumenta o potencial, porque as companhias que estão ficam mais fortes do ponto de vista financeiro e com outro pensamento estratégico internacional e, também, aumenta o potencial que o Brasil tem para novas empresas investindo aqui. Se nós repararmos, o Brasil é o único país da América do Sul, dos grandes, como Argentina, Colômbia, Peru e Chile, em que não há o low cost em formação. Nós temos várias na Argentina, várias no Chile, um ou duas no Peru e na Colômbia, mas no Brasil nós não temos. Então há algo no sistema brasileiro que não está permitindo a criação dessas companhias. Há margem e espaço para desenvolver novos negócios.

Em relação às low costs, há questões trabalhistas, de combustível, questões tributárias que têm afastado realmente investidores estrangeiros e até investidores nacionais

DIÁRIO – Houve uma inversão do processo de low cost, porque a GOL já foi low cost e, inclusive, usava esse slogan. O que é esse algo?

JOÃO PITA – O ICMS é um deles, há vários regulamentos no Brasil que impedem o verdadeiro low cost. Se observarmos hoje, todas as companhias trabalham com o mesmo tipo de aeronave, A320 737, mesmo a Azul, com ATR e Embraer. Então, um país do tamanho do Brasil precisa de outras aeronaves. Se quisermos ligar a cidade de São Paulo ao interior do estado, provavelmente precisaríamos de aviões menores, por isso é preciso ter empresas com outras funções e tecnologia.

Em relação às low costs, há questões trabalhistas, de combustível, questões tributárias que têm afastado realmente investidores estrangeiros e até investidores nacionais de poderem começar novas companhias, com outros modelos de negócios, como a GOL foi há 10, 15 anos atrás, quando começou.

DIÁRIO – A nova concessionária que assumiu o aeroporto há cinco anos está dando conta do recado? Quanto tempo ela tem de contrato?

JOÃO PITA – Nós temos a nossa concessão até 2032. Estamos bastante satisfeitos com o trabalho atá agora. Recebemos a concessão no ano de 2012, com 32 milhões de passageiros e chegamos a 42 milhões de passageiros e no meio disso tivemos a mais grave recessão do Brasil desde o início do século 20. Então, isso significa que alguma coisa foi bem feita. Nós estruturamos a concessão em algumas fases: a primeira foi abrir o Terminal 3, o terminal mais moderno da América do Sul; a segunda fase foi melhorar a experiência do passageiro no Terminal 2, que é o maior terminal; e agora estamos em uma fase de melhoramentos contínuos, como nível de serviço, novas salas VIP, melhorias no estacionamento, dar um portfólio de varejo com maior diversidade para todos os públicos que circulam o aeroporto e com isso atrair mais passageiros, mais companhias aéreas e mais voos. Então temos um longo caminho de melhorias contínuas até 2032.

Temos um longo caminho de melhorias contínuas até 2032.

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