Qual a essência de Mendoza?, por Viramundo e Mundovirado

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Por Heitor e Silvia Reali, do site Viramundo e Mundovirado

Mendoza seduz quem se dispuser a descobrir sua singular natureza em um universo de bem viver

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Mendoza me seduziu antes, no final da década de 1960, como exemplo de urbanização

Se é possível decifrar uma cidade, Mendoza é dessas que se entrega facilmente. Já na saída do aeroporto um vinhedo dá às boas-vindas. E pronto, tudo ali vai girar ao redor do vinho, esse ator principal de um grande espetáculo.

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Hoje, estou aqui por causa dele, mas Mendoza me seduziu antes, no final da década de 1960, como exemplo de urbanização. Esta cidade é obra-prima de engenharia. Explico: o viajante desavisado vai pensar que foi excelente ideia construir Mendoza dentro de um bosque. Mais tarde, porém, saberá que foi o inverso: o homem construiu um oásis dentro de um deserto arenoso e plantou a cidade dentro dele.

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Chama a atenção as avenidas e ruas largas, e muitos jardins, construídos para abrigar a população em caso de terremotos

Mendoza é moderna desde a metade do século 19, e rica em soluções ambientais. Vide o exemplo das acequias, canais de irrigação – por onde corre a água pura vinda do degelo das montanhas – ladeadas de álamos e carolinas que correm paralelas às ruas e praças. Chama a atenção as avenidas e ruas largas, e muitos jardins, construídos para abrigar a população em caso de terremotos. Outra particularidade é o exuberante Parque General San Martin, projetado pelo arq. francês Carlos Thays no início do século passado e orgulho dos mendocinos. Mas ele nasceu com intenção de proteger a cidade das nuvens de poeira provenientes do deserto e assim preservar a saúde de seus moradores.

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Nos oásis estão as tradicionais vinícolas, as pequenas e artesanais, além das modernas bodegas butique

Depois meu interesse por Mendoza, já em meados de 1980, foram as tintas, e não os tintos. Estou falando do grande escritor Antonio Di Benedetto. Natural de Mendoza, redator durante muito tempo do jornal Los Andes, Benedetto traz em seus livros e contos um realismo mágico que se joga na realidade. Não por menos é considerado um dos maiores romancistas do mundo.

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Não há lugar melhor para entrar no mundo do vinho do que Mendoza

Enfim atraído pelo vinho. Não há lugar melhor para entrar no mundo do vinho do que Mendoza. Com quase quatro séculos de tradição vinícola, ali existem aproximadamente 150 mil hectares de vinhedos, perto de mil vitiviniculturas localizadas em quatro oásis bem diferenciados: oásis leste, sul, do vale do Uco e o do centro-oeste. Todos criados pelo trabalho e capricho do homem que plantou e irrigou cada árvore e cada cepa de uva. E olhe que só em 4% da superfície de Mendoza é cultivado o vinho, o resto é deserto virgem.

Nos oásis estão as tradicionais vinícolas, as pequenas e artesanais, além das modernas bodegas butique. Cada vinícola possui um estilo, e de cada terroir sai um vinho diferente. Em comum a latitude 33º, que brinda com excepcionais temperaturas os vinhedos. Juntos, terroir, água puríssima e clima, doam ao vinho palhetas aromáticas únicas. Mas o grande diferencial dos vinhos argentinos é a Cordilheira dos Andes.

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É de enlouquecer a escolha das bodegas a visitar. São muitas as estreladas

É de enlouquecer a escolha das bodegas a visitar. São muitas as estreladas. Optei por conhecer algumas que são chamadas “catedrais do vinho”, devido ao arroubo arquitetônico, pois reúnem o conceito forma e função, sem esquecer contudo a qualidade do vinho. Entre elas a Trivento, 5ª maior produtora de vinhos do mundo; a Domaine Bousquet, que produz somente vinhos orgânicos; a Salentein, a arte do vinho reunida com obras de arte; e a Rutini que há mais de 100 anos produz vinhos refinados.

Mas descobri a flor da lapela. A Bodega Hacienda del Plata, pequena, mas com safras de vinhos soberbos.

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Hacienda del Plata, desde sua primeira safra em 1999 vem arrebatando prêmios um atrás do outro

Localizada numa área de 13ha em Chacras de Coria, um dos lugares mais aprazíveis de Mendoza, Hacienda del Plata, desde sua primeira safra em 1999 vem arrebatando prêmios um atrás do outro. Milagre? Não. Seus proprietários, três hermanos, Ignés, Rosária e Juan Pablo González Toso possuem o que Jonathan Nossiter, diretor do documentário “Mondovino”, afirma: “a paixão pelo vinho é a expressão do amor possível entre o homem e a terra”. Isso foi o que senti ao percorrer acompanhado pelos irmãos os vinhedos de malbec e cabernet sauvignon, e a cave instalada numa casa de mais de cem anos.

Mas ali também se cultiva o talento especial de receber os visitantes, ainda que seja apenas para uma degustação coroada com vinhos de excelência.

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Existem viagens que são da espécie que deixam múltiplas memórias atrás de si – viagens que criam inspirações

Os vinhos mais prestigiados da Hacienda del Plata têm os nomes voltados à herança cultural de seus avô, proprietário de terras na província. Assim o número 1 de seus vinhos foi batizado com seu nome: ‘González O’ Donnell’, um blend da primeira safra. A seguir na degustação, arranquei, como se diz por lá, num ‘Zagal’, jovem, 100% malbec, para logo seguir com um ‘Arriero’, blend, o meu preferido, e não fui embora sem experimentar o ‘Mayoral’, 100% malbec e envelhecido 18 meses em barris novos de carvalho francês ou americano.

Muitos amantes de vinhos vão para essa vinícola com outro objetivo: escolher o vinho de que mais gostaram, comprar uma ou mais barricas da próxima safra desse vinho, e definir o rótulo e o nome que queiram dar a ele.
Existem viagens que são da espécie que deixam múltiplas memórias atrás de si – viagens que criam inspirações. Esta foi uma delas. E assim saio da Hacienda del Plata imaginando um ‘Arriero’ com o meu nome, ‘Reali’.

Considere quando for:

Onde ficar:

Hotel Sheraton Mendoza, www.sheraton/mendoza. Localização privilegiada ao lado das principais ruas de comércio da cidade

Onde comer: Outra escolha difícil. Mas considere:

Willian Brown Irish Bar & Restaurant, av. Aristides Villanueva 301. Só para contrariar e sair do vinho para entra na melhor gama de cervejas artesanais do país

La Marchigiana, típica cozinha ítalo-argentina, www.marchigiana.com.ar

Restaurante Verolio, www.verolio.com.ar Você vai se arrepender de sair de Mendoza sem conhecer esse espaço dedicado a degustação de azeites. Pratos simples regados aos melhores azeites nacionais (os deles)

Para mais informações:
www.turismo.mendoza.gov.ar

www.viramundoemundovirado.com.br

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