Considerações sobre o atentado em Paris Bayard Do Coutto Boiteux *

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A França é hoje o maior país islâmico da Europa. São seis milhões de islâmicos, que convivem com uma série de problemas, desde as periferias violentas onde vivem até a não aceitação por parte do senso comum de serem franceses muçulmanos. Devo confessar que tenho estudado bastante tal fenômeno e vejo uma revolta latente em tais franceses, oriundos das antigas colônias francesas que vieram num primeiro momento executar trabalhos que os franceses entendiam de segunda linha mas que com o aumento do desemprego passam hoje a serem disputados.

O recém ataque terrorista ao Charlie Hebdo deixou o mundo estarrecido e talvez grande parte dos franceses com uma ideia ainda mais equivocada da religião que apregoa a paz, a convivência pacífica e a diversidade protagonizadas por Mohamed, no Alcorão. Ortodoxos existem em todas as religiões e muitas vezes são fanáticos que atuam por conta própria, o que nos deixa ainda mais preocupados.Temos que tomar muito cuidado, apesar da liberdade que deve nortear o mundo, com reproduções e brincadeiras com o profeta Maome, que vem trazendo problemas para a humanidade com episódios na Dinamarca e na própria França. Vamos entender que símbolos religiosos e culturais merecem respeito sobretudo quando 10% da população francesa é hoje muçulmana e se concentra em cidades como Paris, Nice e Marselha e são sempre alvo de chacota e ainda de posicionamentos reacionários, como Marie Le Pen, nas últimas eleições presidenciais.

No entanto, nada, repito nada justifica a morte de 17 pessoas por terroristas. Trata-se de um ato de uma crueldade extrema e que levou a famosa Marche de La Republique, que reuniu mais de 4 milhões de pessoas, incluindo muçulmanos e judeus, que neste domingo (11) também foram alvo da ira dos que resolveram vingar o profeta com derramamento de sangue. Não podemos de forma alguma concordar com atos que punem pessoas que por força de seu trabalho emitem outras opiniões. Os descontentes devem sim mostrar sua insatisfação mas nos termos da lei vigente e buscando formas de luta através de outras publicações e conclamando a população a uma grande reflexão sobre as religiões, mormente o Islamismo.

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O evento fragiliza um entendimento maior da bonita diversidade, que caracteriza  Paris. Amante da Cidade Luz, adoro passear pelo Marais dos judeus, pela área da Grande Mosquee, pela Catedral de Notre Dame, pelo quartier Latin com seus restaurantes que representam um resumo da gastronomia mundial. Paris, como a cidade que recebe o maior número de turistas no mundo hoje está amedrontada e houve um cancelamento de reservas e lugares em avião, que deverá merecer rapidamente uma campanha promocional.

Estou chocado com o ocorrido em Paris, que me ensejou muitas reflexões e questionamentos. Os olhares do mundo se voltaram para a França mas devem também mirar outros países onde tais atos dizimam populações na Africa e no Oriente Médio. O mundo precisa devagar inibir a formação e recrutamento de tais terroristas, cujo primeiro ato marcante aconteceu em New York, com o atentado das torres gêmeas. Sinto uma tristeza grande que no país da liberdade, igualdade e fraternidade, tenha ocorrido um ato tão chocante mas que deve ser visto também pela intolerância que o mundo mostra a hábitos e culturas diferentes. Eu sou Charlie. Quero um mundo que aceite a diversidade pois só assim construiremos uma sociedade mais justa e menos preconceituosa.

* Bayard Do Coutto Boiteux é professor universitário, pesquisador, escritor, gerencia o Turismo do Preservale e preside o site Consultoria em Turismo.(www.bayardboiteux.com.br)

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