Desvalorização do real causa turbulência nas empresas aéreas

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Por Bloomberg

A volátil moeda do Brasil está nublando qualquer tentativa de planejamento a longo prazo das empresas aéreas.

Com o real em baixa de 29 por cento em relação ao dólar neste ano, os custos do combustível e das dívidas estão subindo para as empresas aéreas brasileiras e os passageiros domésticos estão pensando duas vezes antes de planejar viagens para Miami e Orlando. Os executivos disseram que não têm ideia do que esperar para o restante deste ano ou do próximo, em um momento em que lutam contra as flutuações de curto prazo.

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“Estamos planejando mês a mês porque cada vez que começamos a planejar algo as coisas mudam”, disse Dilson Vercosa, gerente regional de vendas da American Airlines Group Inc. “No momento, estamos avaliando setembro e outubro. Nós lançamos promoções e tentamos encher os aviões. Se isso não dá resultado, baixamos os preços novamente. Vamos ter que continuar fazendo isso até ter um sinal forte de que as coisas vão melhorar”.

A American, que opera na maior parte das cidades brasileiras a partir dos EUA, ofereceu passagens de ida e volta entre Belo Horizonte e Miami por apenas US$ 386. A empresa aérea brasileira Azul SA, que começou a realizar voos internacionais em dezembro, vem igualando os preços da American para os EUA para manter os passageiros.

Crise política

A queda vertiginosa da moeda reflete o aprofundamento de uma crise econômica que os analistas dizem que será a recessão mais aguda do Brasil desde os anos 1930. Ao mesmo tempo, a presidente Dilma Rousseff está enfrentando pedidos de impeachment e tem poucos aliados no Congresso, o que gera o temor de que ela não seja capaz de cumprir as promessas de reduzir os gastos e reforçar as finanças.

“Isto é uma crise política e nós precisamos de uma definição sobre o que irá acontecer”, disse Vercosa, que não espera uma recuperação econômica antes do final de 2016 pelo menos. “Politicamente, esta é a pior crise que eu já vi, porque temos zero visibilidade. Não há um final à vista”.

O cenário de hoje é muito diferente do que se viu nos últimos cinco anos, quando o número de voos internacionais para o Brasil se expandiu rapidamente com mudança regulatoria e a força da moeda, fazendo valer a pena voar a Miami para uma viagem de compras de fim de semana.

Projeção para a moeda

A Azul, que opera no maior número de destinos domésticos e conta com sua extensa rede para manter os voos internacionais cheios, disse que não tem ideia do que poderá ocorrer no ano que vem — ou mesmo neste mês — após um primeiro semestre fraco.

“Eu tinha mais certeza sobre 2015 há um ano do que sobre 2016 agora”, disse o presidente da Azul, Antonoaldo Neves, em entrevista na sede da empresa em Barueri. “No nosso setor, é difícil fazer previsões quando você tem uma volatilidade assim” na moeda.

Os proprios analistas de câmbio estão tendo dificuldades para prever os rumos da moeda brasileira, segundo Win Thin, chefe global de estratégia para mercados emergentes da Brown Brothers Harriman Co. em Nova York.

“A volatilidade do real vem tanto de condições internas quanto externas”, disse Thin. “Eu definitivamente vejo mais fragilidade pela frente ”.

Fundo do poço

Mesmo depois de os analistas reduzirem suas projeções em 24 por cento neste ano, maior declínio entre as principais moedas do mundo, as estimativas para o real ainda estão abaixo do nível atual de negociação da moeda. O real caiu 1,7 por cento nesta quarta-feira, para R$ 3,7611 por dólar. A moeda terminará este ano a R$ 3,60 por dólar e permanecerá nesse patamar em 2016, segundo a média de estimativas obtida em uma pesquisa da Bloomberg com 50 analistas. A volatilidade implícita de um mês saltou para 22,24 por cento, valor mais alto registrado desde março.

A pergunta para as empresas aéreas, que adquirem aviões e combustível precificados em dólares e normalmente tentam tomar decisões de planejamento sobre rotas, expansão e preços com um ano de antecedência, é qual será o fundo do poço para o real.

“A questão agora é de sobrevivência”, disse Mário Bernardes Júnior, analista do Banco do Brasil SA. “As empresas aéreas estão tentando sobreviver, vivendo um dia de cada vez. Não é o fim do mundo, mas são tempos difíceis”.

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