Plano de flexibilização do governo de São Paulo é contestado por pesquisadores

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O plano apresentado pelo governador de São Paulo, João Dória Jr., para a abertura do Estado contradiz os dados do próprio governo estadual. É o que aponta a nota técnica Sobre o Relaxamento do Isolamento social no Estado de São Paulo, assinada pelos grupos de pesquisa Portal Covid e Ação Covid-19, reunindo professores da Universidade Federal do ABC (UFABC) e de outras importantes instituições de ensino superior do país (link ao pé do texto).

EDIÇÃO DO DIÁRIO com agências

Segundo os pesquisadores, ao contrário do que afirmou o governador na apresentação do plano, em 27/5, a curva de infecções não está sob controle em São Paulo. O próprio Dória havia deixado isso claro na semana anterior, ao afirmar que havia risco de lockdown na cidade.

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“Com o número de casos ainda em ascensão, sem uma clara política de testagem, com a expansão do contágio, das grandes metrópoles para o interior, e com um número ainda alarmante de ocupação de leitos, a redução prematura do isolamento social pode semear o caos no sistema de saúde”, afirma o professor Domingos Alves, do Laboratório de Inteligência em Saúde da Faculdade de Medicina da Universidade em Ribeirão Preto e membro do grupo Covid-19 Brasil. “O esforço de três meses de isolamento seria desperdiçado, levando a uma perda desnecessária de vidas.”

Os pesquisadores analisaram a divisão das áreas do Estado de acordo com as fases de abertura em que podem estar. As fases são representadas por cores: verde, azul, amarelo, laranja e vermelho, da maior abertura ao maior fechamento. Usando dados da Secretaria de Saúde do Estado e outros dados elaborados por dois coletivos de pesquisadores (Ação Covid-19 e Covid-19 Brasil), o estudo mostra que cidades como Botucatu e Araraquara têm uma curva de contágio pior do que a da capital, de modo que deveriam ter a cor laranja, em vez da vermelha. A Baixada Santista, que tem taxa de ocupação de UTIs acima de 70%, também não poderia abrir o comércio, mas a pressão de lideranças políticas locais levou à elevação da área do vermelho para o laranja.

“A escolha preliminar dos municípios para se recomendar a abertura de comércio, incluindo a abertura de shopping centers, foi feita sem levar em consideração a emergência e a gravidade da epidemia nesses municípios”, afirma José Paulo Guedes, pesquisador da UFABC e membro do grupo Ação Covid-19. Os pesquisadores alertam que há um precedente perigoso de abertura precoce: em Blumenau-SC, após a abertura do comércio e dos shopping centers, a quantidade de novas infecções saiu de controle.

“O que a sociedade paulista precisa neste momento é trabalhar em conjunto para fazer com que a curva de transmissão seja drasticamente reduzida. Isso não será atingido abrindo o comércio das cidades”, afirma a física Patricia Magalhães, da Universidade de Bristol e membro do grupo Ação Covid-19. “Ao contrário, é preciso intensificar o isolamento social. Para isso, é preciso dar condições para que a sociedade como um todo, considerando suas desigualdades sociais e outras especificidades, tenha condições de se manter isolada.”

Link da nota técnica: https://acaocovid19.org/publications/note4

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